terça-feira, 12 de março de 2013

O ser humano e suas profundezas – Nelson Rodrigues – Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Expectativas a respeito do ser humano

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez." (Nelson Rodrigues, no site nelsonrodrigues.com.br)

Nelson Rodrigues no fragmento de texto acima exprime, de forma sucinta, um aspecto interessante do ser humano. Se tomarmos aquele fragmento de texto como base – assim funcionam as ciências com seus pressupostos que lhes dão base -, é possível ter esperança no desenvolvimento positivo dos valores humanos e consequentemente na humanidade. Assim eu penso e sinto, ou seja, assim eu percebo e desta forma eu vivo.

Há quem julgue pela obra de Nelson Rodrigues que ele tinha uma visão pessimista a respeito do ser humano. Eu discordo que ele não tivesse esperança no ser humano. Entendo que se ele não tivesse tal esperança, ele não teria realizado a sua obra que tanto indica as nossas mazelas. Ele não as revelaria em vão. No meu entendimento ele, através de sua obra, expressava também tal esperança. Seria ilógico esse "berro" dele se o objetivo fosse apenas o de agredir a humanidade através da exposição das mazelas dela. Ninguém com inteligência suficiente para conhecer tão bem o ser humano, como é o caso dele, seria capaz de tamanha pequenez.

O pensamento a seguir mostra que ele tinha esperança no ser humano, haja vista que ele considerava a possibilidade do sujeito se angustiar e, assim, promover as ações necessárias às mudanças.

"A nossa opção, repito, é entre a angústia e a gangrena. Ou o sujeito se angustia ou apodrece." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 69)

Ele, o Rodrigues, assinalou a necessidade de autoconhecimento

Ele era ao mesmo tempo crítico e autocrítico. Revelava comportamentos alheios e dele próprio. O ser humano que não reconhece as próprias mazelas não pode livrar-se delas.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário)

"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: 'Senhoras e senhores, eu sou um canalha'." (Nelson Rodrigues, no livro Flor de Obsessão)

Viver de aparências.

Quem vive de aparências é o mesmo que viver interpretando um personagem. Logo, quem assim procede deixa de viver a própria vida. Afinal, não é mais honesto consertar o que é preciso consertar do que maquiar a imperfeição?

"Acabava de conversar com uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse [...] A leitora de orelhas... (Nelson Rodrigues, no texto Uma bica entupida há mil anos; O Reacionário)

"Na vida, usamos máscaras sucessivas e contraditórias." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 261)

"E, assim, falsários da vida, dos valores da vida, vamos fazendo as nossas poses políticas, ideológicas, literárias, religiosas etc. etc." (Nelson Rodrigues, na crônica A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo." (Nelson Rodrigues, no texto A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

"Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Fazendo as contas, somos bons, por dia, de quinze a vinte minutos." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 84)

"O sujeito, para viver, ou sobreviver, enterra o próprio espírito, como as jóias de Raskolnikov. E, se for preciso, ele finge debilidade mental e põe-se a babar na gravata, copiosamente." (Nelson Rodrigues, no texto Os falsos cretinos; O Óbvio e Ululante)

Somos nós que demandamos.

Algo só existe se houver demanda, ou seja, se o ser humano entender que é necessário a ele, que é agradável a ele e assim, ele desejar este algo. As demandas podem ser naturais ou induzidas.

"Se não existisse no homem o lado podre, se não existisse no fundo de cada qual a lama inconfessa e encantada, também não existiria a indústria cinematográfica." (Nelson Rodrigues, no texto Contra a violência; A Cabra Vadia)

"Napoleão, o Grande, só foi possível porque a Europa estava saturada de pequeninos napoleões." (Nelson Rodrigues, no texto O Brasil Nazi-Stalinista; A Cabra Vadia)

Agir no limite.

É possível conhecer mais a respeito de uma pessoa quando a vemos agir no limite. É neste estado que somos mais autênticos. À medida que o indivíduo se prepara para viver de forma humana, ele tem menos do que se envergonhar de suas atitudes.

"A fome não tem limites. As pessoas fazem aquilo que jamais pensaram que fossem capazes de fazer, quando passam fome." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 45)

"No risco, as pessoas fazem as mais aviltantes acrobacias ideológicas." (Nelson Rodrigues, no texto Sua vida foi um momento da consciência brasileira; O Reacionário)

Sem medo de ser feliz.

No fundo é mais agradável "viver vivo" do que "viver morto". Portanto, nada melhor do que ser autentico, do que correr os riscos e passar pelas dores de se dignificar como um ser humano. Não ser nada, não ser ninguém, não ser você mesmo dói muito.

"O indivíduo que esboçar um esgar de inteligência há de ser, sempre, um solitário e um escorraçado. Um idiota está sempre acompanhado de outros idiotas. Mas nenhum ser é menos associativo do que o inteligente." (Nelson Rodrigues, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 5)

"Hoje é muito difícil não ser canalha. [...] Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." (Nelson Rodrigues, no texto O ex-covarde; A Cabra Vadia)

A obra de Nelson Rodrigues tem muito mais a nos mostrar sobre as profundezas do ser humano. Para compreender tais profundezas, basta arregaçar as mangas e conhecer o legado que o Nelson, o Rodrigues nos deixou.


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Ah! Ainda a tempo, declaro que não concordo totalmente com as ideias de Nelson Rodrigues. Digo que minhas discordâncias são parciais e que admiro, de forma positiva, tanto a ele quanto ao trabalho dele, mesmo com as discordâncias. Assim entendo que aprendemos com as diferenças. E por falar em discordância, eu não consigo concordar totalmente nem comigo mesmo. Sendo assim, como poderei concordar totalmente com outras pessoas? Depois desta, imagino que há uma pergunta que não quer calar: como pode alguém não concordar totalmente com ele próprio? A resposta é simples: tem coisas que fazemos, que pensamos e que sentimos, mas que gostaríamos de não fazer, de não pensar e de não sentir. Afinal, com todo respeito, somo todos assim, não somos?

Mas voltando às discordâncias do início do texto, digo que eu não concordo totalmente com alguns elogios e algumas críticas que ele fez a certas pessoas que foram seus contemporâneos, mas eu entendo e respeito o pensamento dele.

Portanto, não tenho como não admitir a importância da obra de Nelson Rodrigues e não tenho, também, como não admitir o grande esforço e coragem dele para elaborar tal obra. Ele criou e desenvolveu a obra dele com paixão – ele demonstrava ser extremamente apaixonado pelo que fazia - e para mostrar isso, lanço mão de uma de suas frases: "Sem alma, não se chupa um Chicabon, não se cobra nem um arremesso lateral." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 254)


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Educação
Leia Mais ►

Um raio-X da multidão - Nelson Rodrigues – Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Este é um tema delicado e dependendo do enfoque pode tornar-se extremamente delicado. Porém, uma das coisas que aprendi na vida é que se for preciso, temas delicados devem ser tratados e para isso devem ser levadas em consideração as condições oportunas para esse tratamento. Aliás, o tratamento de temas delicados é o que mais foi feito por Nelson Rodrigues.

Sabe-se que o ser humano é um ser social. Os diversos tipos de relacionamento humano são necessários à sobrevivência e ao desenvolvimento da espécie. Porém, a dificuldade está no relacionamento. Nas linhas a seguir, o tema multidão será abordado com foco nos aspectos do relacionamento humano que necessitam ser melhorados. Vale ressaltar que este texto, assim como qualquer outro, não tem como alcançar todos os aspectos do tema em questão. E se isso é óbvio e realmente o é, então lanço mão desta frase: "Se isso parece óbvio, direi que o óbvio também é filho de Deus." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 25)

A multidão teve a sua vez de ser abordada na obra de Nelson Rodrigues e em um dos aspectos tratados deste tema o escritor mostrou uma face desagradável de tal agrupamento:

"Sempre digo que a multidão é inumana porque não tem cara." (Nelson Rodrigues, na crônica O Leque foi um Momento; O Óbvio e Ululante)

E justamente por não ter "cara", muitos consideram que estão protegidos pelo anonimato quando fazem parte de um grupo. Alguns destes, por ignorância ou no mínimo por ingenuidade – o que não deixa de ser por ignorância -, acredita que o indivíduo não tem responsabilidade pelos atos do grupo, haja vista que se comportam como se isso fosse verdade. Sozinhos não fariam (agiriam, falariam,...) uma boa parte do que fazem quando estão em grupo.

"Homens; classes, povos são suscetíveis dos mais sinistros enganos ou das mais hediondas torpezas." (Nelson Rodrigues, no texto Os abnegados; A Cabra Vadia)

"Napoleão, o Grande, só foi possível porque a Europa estava saturada de pequeninos napoleões." (Nelson Rodrigues, no texto O Brasil Nazi-Stalinista; A Cabra Vadia)

Não é necessária nenhuma tese acadêmica para ficar claro que o indivíduo comporta-se de formas diferentes quando só e quando está em grupo. Vemos isso no dia a dia e nós mesmos somos assim, isto porque os valores individuais são vetores que irão formar o vetor resultante, que é o vetor do grupo. Francamente, não há como negar este estado do comportamento humano, a não ser que se queira tampar o sol com peneira.

"Nem considero a unanimidade um argumento decente." (Nelson Rodrigues, no texto Os abnegados; A Cabra Vadia)

"O Maracanã vaia até minuto de silêncio." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 251)

"A torcida é a mãe de pouco amor." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 265)

E por falar em vetores, nos casos aqui tratados, eles nada mais são que a representação dos valores de um indivíduo e a resultante dos valores de um grupo.

"O próprio tema da multidão como sinônimo de mediania mental, de falta de individualidade, foi frequente em sua produção." (Luíz Augusto Fischer, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 128)

A idéia de agrupamento humano muitas vezes é utilizada para objetivos poucos nobres. Há quem se aproveite disso para benefício próprio. Reconhecer que isto acontece na sociedade humana não é difícil, desde que se esteja em condições e disposto a enxergar. A cada passo que damos nos deparamos com estas situações que aviltam a condição humana. Portanto, reservar um tempo para verdadeiramente ser indivíduo é fundamental para não ser levado como folha ao vento, para não ser levado por uma corrente sem saber o motivo de estar nela. Pare! Pense! Sinta! E então decida!

"Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar." (Nelson Rodrigues, no site da TV Cultura)

"Nelson faz questão de individualizar-se, de ser apenas ele próprio, com todos os riscos." (Luíz Augusto Fischer, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 218)

"Ele (Nelson Rodrigues) não era de partido, não era de igrejas, não era de esquerda ou de direita, não era da Academia (nem a de Letras, nem a universitária), não pertencia a grupos de opiniões, nem a "panelas" de nenhuma espécie." (Sonia Rodrigues, filha de Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 10)

"Cada qual assume a forma impessoal, numerosa e irresponsável da assembléia, do comício, da comissão, do manifesto, da passeata e da unanimidade. Só agimos, só sentimos, só amamos e só odiamos em massa. Sim, estamos todos massificados. E cada um sente, como no epitáfio de Rilke, a volúpia de ser ninguém. O sujeito se dissolve na passeata, na assembléia, na unanimidade." (Nelson Rodrigues, no texto As cabeças rolantes; A Cabra Vadia)

A nossa sociedade ainda deixa muito a desejar no que diz respeito à convivência, aos agrupamentos humanos (família, sindicatos, relacionamentos de trabalho, grupos escolares, torcidas ligadas aos esportes, grupos religiosos, grupos políticos,...). O ser humano é um ser social, mas ainda não entendeu como utilizar positivamente esta característica natural. Ele se comporta como um ser extremamente individualista e não como um ser social. Entendo que Nelson Rodrigues via que as multidões, que as maiorias, mostravam-se inumanas, irresponsáveis, intolerantes, dentre outras coisas. Além disso, mostravam-se fáceis de serem manobradas com objetivos pouco nobres.

"O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência." (Nelson Rodrigues, no livro Entrevistas, Clarice Lispector, 2007, pág. 29)

"Trezentas pessoas reunidas constituem um bloco monolítico de incompreensão, frequentemente de estupidez." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 261)

"Não estarei insinuando nenhuma novidade se afirmar que nunca houve uma multidão inteligente." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 249)

"O indivíduo que esboçar um esgar de inteligência há de ser, sempre, um solitário e um escorraçado. Um idiota está sempre acompanhado de outros idiotas. Mas nenhum ser é menos associativo do que o inteligente." (Nelson Rodrigues, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 5)


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

segunda-feira, 11 de março de 2013

Tratamento em Espiral - Nelson Rodrigues – Obra Aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

O tratamento em espiral é utilizado na área de educação como uma ferramenta para o desenvolvimento do conhecimento. Através dessa ferramenta que permite o contato daquele que aprende com o assunto a ser aprendido em épocas diferentes, o aprendiz tem a possibilidade de amadurecer o conhecimento, além de expandi-lo através de novos focos. Bem, mas na vida, no dia a dia não acontece da mesma forma? Assim não é a vida como ela é? Claro que sim. E isso nos mostrou Nelson Rodrigues com sua obra.

"A arte da leitura é a da releitura." (Nelson Rodrigues, no livro O óbvio ululante, Uma banana como merenda)

"Eu não existiria, sem as minhas repetições." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 7)

"A televisão vive das reprises dos seus filmes, eu vivo das reprises das minhas imagens." (Nelson Rodrigues, no texto O homem fatal; O Óbvio e Ululante)

É claro que há um objetivo com isso. Afinal, a experiência se adquire pela prática constante e atenta de uma atividade.

"Poderão objetar que já escrevi isso umas duzentas vezes. Ai de mim, ai de mim. Não sinto nenhum escrúpulo, nenhum pudor de me repetir." (Nelson Rodrigues, no texto A invisibilidade do óbvio, À sombra das chuteiras imortais)

"Desculpem a minha insistência na meditação dramática: mas sou, como disse o Cláudio Mello e Souza, uma 'flor de obsessão'." (Nelson Rodrigues, no texto Hamlet nos bate a carteira; O Óbvio e Ululante)

Perceber algo novo é o objetivo do tratamento em espiral.

"O mesmo livro é um na véspera e outro no dia seguinte. Pode haver um tédio na primeira leitura. Nada, porém, mais denso, mais fascinante, mais novo, mais abismal do que a releitura." (Nelson Rodrigues, no livro O óbvio ululante, Uma banana como merenda)

Independente de ser crença ou uma hipérbole (figura de linguagem) é, com certeza, uma afirmação da necessidade do tratamento em espiral.

"Mas um sujeito precisa de 15 encarnações para viver um momento de amor." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 27)


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

domingo, 10 de março de 2013

A triste e vergonhosa automação – Nelson Rodrigues – Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Nós não somos máquinas. Máquinas não pensam, não têm sentimentos, não têm intuição e não têm inspiração. Máquina é máquina e ser humano é ser humano. Ao menos deveria ser assim.

"Sem alma, não se chupa um Chicabon, não se cobra nem um arremesso lateral." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 254)

É possível observar um estado avançado de automação humana em nossa sociedade. Pessoas parecem máquinas, estão insensíveis aos outros e às belezas da vida. A objetividade exacerbada mecaniza o ser humano e este não consegue perceber o que há de belo ao seu redor e encontra-se cada vez mais incapaz de agir de forma poética. No meio educacional os procedimentos estão, cada vez mais, sendo automatizados. O futebol perdeu o élan de beleza e ganhou um mecanismo maquinal. Os filmes ficaram tolos em sentimentos e artificiais no conteúdo. Falta humanidade, falta a característica que nos torna humanos, que nos torna diferentes das máquinas.

"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo." (Nelson Rodrigues, na crônica A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

Por falar em máquinas, vale lembrar o filme "O homem bicentenário" no qual um robô queria, do fundo do seu "coração mecânico", se transformar em ser humano. É triste ver o contrário disto, é triste ver pessoas se parecendo cada vez mais com máquinas.

"...o desenvolvimento humaniza a máquina e maquiniza o homem. O escritor patrício (Otto Lara Resende) teve vontade de conversar com as máquinas e de lubrificar as pessoas. (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 31)

Nelson Rodrigues percebeu que o ser humano caminhava para essa vergonhosa automação humana e denunciou isso em sua obra.

"As pessoas não pensam mais porque não têm absolutamente mais tempo para isso." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 30)

"Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Fazendo as contas, somos bons, por dia, de quinze a vinte minutos." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 84)

"Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma doença grave: - a objetividade. Daí para o idiota da objetividade seria um passo." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 95)

"Sempre digo que a multidão é inumana porque não tem cara." (Nelson Rodrigues, no texto O Leque foi um momento, O Óbvio Ululante)

Pense nisso e avante à automação. Ops! Quero dizer: avante à autonomia. Afinal somos seres humanos e não máquinas.


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

Sobre máscaras e hipocrisia - Nelson Rodrigues - Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Sem máscara é muito difícil do indivíduo se aceitar. Tirar constantemente as máscaras – são muitas - é um ato de coragem e é preciso ter vontade, é preciso querer tirá-las. Este é um processo de repensar e transformar os próprios valores. Às vezes achamos mais fácil usar máscara do que nos esforçarmos para esta transformação.

Nelson Rodrigues – ora mal compreendido, ora atacado de má fé e de forma hipócrita – nos deixou com seu trabalho, um material capaz de ajudar muito a realização desta transformação.

"Quando releio Nelson (Rodrigues), não me canso de admirar sua capacidade de, com um mero adjetivo ou expressão, chocar pelo paradoxo, ferir pela ironia, refutar pelo absurdo ou desnudar secretas hipocrisias." (Roberto Campos, na orelha do livro A Cabra Vadia)

O autoconhecimento é o primeiro passo para deixarmos de repetir nossos erros, nossos velhos erros. Aliás, vale lembrar Bertrand Russell que, no mais fino sarcasmo, nos disse que deveríamos deixar de cometer os mesmos erros, já que há tantos erros novos a serem cometidos.

Portanto, como um doente pode ser curado se ele não tem consciência de estar doente? Sem esta consciência ele não procurará tratamento. Da mesma forma uma pessoa não pode transformar seus valores se não tiver consciência de que eles, os valores, estão "doentes".

"De vez em quando, alguém me chama de 'flor de obsessão'. Não protesto, e explico: — não faço nenhum mistério dos meus defeitos. Eu os tenho e os prezo (estou usando os pronomes como o Otto Lara Resende na sua fase lisboeta). Sou um obsessivo. E, aliás, que seria de mim, que seria de nós, se não fossem três ou quatro idéias fixas? Repito: — não há santo, herói, gênio ou pulha sem idéias fixas. (Nelson Rodrigues, no texto Flor de Obsessão, A Cabra Vadia)

"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: 'Senhoras e senhores, eu sou um canalha'." (Nelson Rodrigues, no livro Flor de Obsessão)

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez." (Nelson Rodrigues, no site nelsonrodrigues.com.br)

Ainda sobre máscaras e hipocrisia, Nelson Rodrigues traz à tona uma coisa simples do cotidiano, algo tão antigo, mas ao mesmo tempo tão atual e corriqueiro. É o caso daqueles que só lêem as orelhas de um livro e dizem tê-lo lido totalmente. Triste constatação. Se há quem faça isso com questões simples como a dos livros, não há quem faça por outros motivos? Estas são atitudes falsas e que não são sustentáveis. São máscaras postas que não resistem ao tempo. Aqui vale lembrar Lao Tsé no poema 24 do livro Tao Te Ching no qual é dito que aquele que se ergue na ponta dos pés, não pode ficar por muito tempo.

"Acabava de conversar com uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse [...] A leitora de orelhas... (Nelson Rodrigues, no texto Uma bica entupida há mil anos; O Reacionário)

"Na vida, usamos máscaras sucessivas e contraditórias." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 261)

"Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Fazendo as contas, somos bons, por dia, de quinze a vinte minutos." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 84)

E por que não falarmos dos casos nos quais colocamos o problema do pão antes da questão da liberdade? Nestes casos, estamos vendendo bens que deveriam ser inegociáveis. Fazemos isso por fraqueza de caráter e por falta de confiança em nós mesmos, dentre outros motivos.

"Sou um obsoleto, um carcomido, porque coloco a questão da liberdade antes do problema do pão." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 249)

"O que confere dignidade à pessoa humana são certos bens inegociáveis." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 259)

"O sujeito, para viver, ou sobreviver, enterra o próprio espírito, como as jóias de Raskolnikov. E, se for preciso, ele finge debilidade mental e põe-se a babar na gravata, copiosamente." (Nelson Rodrigues, no texto Os falsos cretinos; O Óbvio e Ululante)

Muitas vezes Nelson Rodrigues e sua obra foram atacados por aqueles que não gostariam, e não tinham coragem, de ver formas de suas mazelas expostas, pois outros poderiam identificá-las neles. Era preferível atacar a revelação das formas e características de tais mazelas, dos arquétipos, para que tais pessoas não precisassem mudar a si. Aliás, tais mudanças dão bastante trabalho e muitos perderiam com isso, pois à medida que estes arquétipos são revelados, fica mais fácil identificar a sombria interpretação, até porque as verdadeiras intenções ficam mais claras.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário)

"A vaia nada mais é do que o aplauso dos descontentes." (atrib. a Nelson Rodrigues)

"O cinismo escorre por toda parte, como a água das paredes infiltradas." (Nelson Rodrigues, no texto Os cínicos; O Reacionário)


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

Nelson Rodrigues – Textos para "bater-papo"

Há quem não queira "papo", mas Nelson Rodrigues gostava de "papo".

"Ele (Nelson Rodrigues) era tão coeso na sua maneira de ver o mundo, tão coerente na sua lucidez, que falava como escrevia." (Sonia Rodrigues, filha de Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 7)

"A apresentação que o Aníbal (Damasceno Ferreira) do Nelson (Rodrigues) para mim começou como uma isca, não sei se proposital. Disse ele que nas Confissões língua portuguesa havia finalmente aprendido a falar brasileiro, isto é, que o texto do Nelson é que havia realizado o ideal modernista de, nas palavras do Aníbal, 'escrever papeando', fazer literatura com a matéria-prima da informalidade oral da língua." (Luís Augusto Fisher, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 14)

A linguagem dele é simples e parece que ele conversa com o leitor. É verdadeiramente uma conversa informal. Ler Nelson Rodrigues é o mesmo que "bater um papo" com ele.

"Onde é que eu estava? Agora me lembro. Depois da estreia de Vestido de Noiva, fui comer bife no restaurante Nevada, ao lado de O Globo. Depois tomei um ônibus etc. etc. Ah, passei essa noite em claro..." (Nelson Rodrigues, no texto Nascera para ser um pobre-diabo; O Reacionário)

"E lá estava anunciado o filme da semana: De amor também se morre. Os artistas eram Charles Boyer, com trinta anos menos, e Olivia de Havilland. (Ou por outra: — não era Olivia de Havilland, mas a irmã de Olivia, cujo nome não me ocorre.) [...] (Agora me lembro: — a irmã de Olivia de Havilland chamava-se Joan Fontaine.) E as pessoas que passavam na calçada..." (Nelson Rodrigues, no texto Amor para além da vida e da morte; A Cabra Vadia)

"Não sei se me entendem. Se estou sendo obscuro, paciência. Mas, como ia dizendo: — desdobro aqui a minha meditação de ontem..." (Nelson Rodrigues, no texto A feia nudez; A Cabra Vadia)

"Quando Eisenhower nos visitou, um diplomata dormiu em pleno discurso do grande homem. Dormiu e, o que é pior, babando na gravata. Nem pense que eu esteja fazendo qualquer restrição. Quando me contaram, eu sofri uma dessas crises violentas de inveja e frustração." (Nelson Rodrigues, no texto As insônias exemplares; O Reacionário)

É este "papo" informal e de fluxo fácil que faz com que os textos de Nelson Rodrigues sejam agradáveis. Ah! A generalização que fiz sobre serem agradáveis os textos de Nelson Rodrigues foi um erro imperdoável, pois só é agradável para aqueles que reconhecem em si as suas mazelas e se dispõem a agir diante disto. Para os que não têm tal disposição, imagino que os textos dele sejam altamente desagradáveis. Aliás, por que ele e seus textos foram, e são até hoje, atacados? Não é difícil de saber a resposta, ela é óbvia e ululante, como diria o escritor.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário)

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez." (Nelson Rodrigues, no site Nelson Rodrigues por ele mesmo)

Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

quinta-feira, 7 de março de 2013

Peculiaridades nos textos de Nelson Rodrigues (1)

Para compreender as ideias e as expressões usadas por Nelson Rodrigues é necessário conhecer o contexto no qual ele as empregava. As expressões mudaram – até porque a língua muda, ela é viva -, mas a essência das ideias dele continua atual. Além disso, algumas expressões que ele utilizava passaram a fazer parte do rol do politicamente incorreto; pura hipocrisia.

Pode parecer que estou a admitir que Nelson Rodrigues está ultrapassado, mas minha opinião está longe disto. Ele está mais para profeta do que para escritor ultrapassado. Afinal, o ser humano não mudou o suficiente para que as ideias dele se tornassem ultrapassadas.

Nelson Rodrigues declarou que ao desenvolver um texto, ele pensava mais do que escrevia. Ele não escrevia ao acaso, ele sabia o que e como queria expressar. É possível observar algumas peculiaridades nos textos escritos por ele. É necessário deixar claro que o texto que escrevo não tem o objetivo e não tem como esgotar este assunto. Além disso, o que escrevo são minhas impressões pessoais, apenas impressões que têm o objetivo de provocar reflexões.

Nelson Rodrigues utilizava expressões e estilos que chamavam, e que chamam até hoje, a atenção. Tais expressões eram cultivadas e cunhadas nos inúmeros textos (crônicas, contos, peças teatrais,...) escritos por ele, nas entrevistas que ele concedia e nas conversas informais.

Entendo que estas expressões tinham objetivos definidos por ele (chamar a atenção para a leitura, economizar palavras com códigos conceituais, ...). Ele as utilizava com propósitos e não de forma casual.

Em uma de suas crônicas, ele cita uma conversa com um milionário paulista. Nesta conversa, o milionário diz que para ele importa a forma, sim a forma dos textos de Nelson, o Rodrigues. É justamente a forma que desperta o interesse, de muitos até hoje, pelos textos dele.

"Impressionado quis saber: - 'O senhor acha que eu tenho sido justo com o Piauí?" Reagiu com fervor estilístico do parnasiano: 'Não me interessa a justiça. Só me interessa a forma, Dr. Nelson, a forma!' " (Nelson Rodrigues, no texto O grande homem; O Reacionário)

Vamos conhecer alguns dos artifícios:

E haja hipérbole.

O que não falta nos textos de Nelson Rodrigues são as hipérboles. E haja hipérbole. Para Nelson, o Rodrigues, uma palavra é sempre mais que uma palavra. Uma expressão é sempre mais que uma expressão. E assim, palavras e expressões são infladas de contexto e desta forma, dão características hiperbólicas aos textos dele.

"Há dias em que me sinto mais árido do que três desertos." (Nelson Rodrigues, no texto Robinson Crusoé sem radinho de pilha, O Óbvio Ululante)

"Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um pode fazer três mil volumes sobre si mesmo." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 14-15)


E a dramaticidade?

Tem como não falar de dramaticidade nos textos de Nelson Rodrigues? Claro que não, é um dos aspectos mais evidentes.

Entendo que Nelson Rodrigues usava este artifício com o objetivo de despertar o leitor para que a essência contida no texto fosse observada e para que ela permanecesse viva. A essência não poderia estar morta, ela tinha de ter vida. Ele não era, como na expressão que ele cunhou, um idiota da objetividade.

"A nossa opção, repito, é entre a angústia e a gangrena. Ou o sujeito se angustia ou apodrece." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 69)

"...o desenvolvimento humaniza a máquina e maquiniza o homem. O escritor patrício (Otto Lara Resende) teve vontade de conversar com as máquinas e de lubrificar as pessoas. (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 31)

"Sem alma, não se chupa um Chicabon, não se cobra nem um arremesso lateral." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 254)

"E, pelo resto da noite, sofri, sem um gemido, o sarcasmo de uns sessenta casais." (Nelson Rodrigues, no texto O pai anônimo; O Reacionário)

"Depois da revolução de 30, e até 35, eu e toda minha família conhecemos uma miséria que só tem equivalente nos retirantes (sic) de Portinari. [...] Eu e meu irmão Joffre passamos fome e foi a fome que estourou nossos pulmões." (Nelson Rodrigues, no texto O menino de Pernambuco; O Reacionário)

"O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência." (Nelson Rodrigues, no livro Entrevistas, Clarice Lispector, 2007, pág. 29)


O lirismo de Nelson, o Rodrigues.

Seria um descuido imperdoável deixar de evidenciar o lirismo nos textos de Nelson Rodrigues.

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista." (Nelson Rodrigues, na primeira página do livro O Anjo Pornográfico)

"Eu sou um romântico quase caricatural. Acho que todo amor é eterno, e se acaba, não era amor." (Nelson Rodrigues, no livro Entrevistas, Clarice Lispector, 2007, pág. 30)

"Minha família morava diante do mar. Mas o mar antes de ser paisagem e som, antes de ser concha, antes de ser espuma - o mar foi cheiro." (Nelson Rodrigues, no texto O menino de Pernambuco; O Reacionário)

"Eu sinto a bondade contra-feita do médico, a sua compaixão não confessa, apenas insinuada. Minha vontade foi fazer-lhe, à queima-roupa, a pergunta: — 'O senhor acredita na ressurreição de Lázaro? '. " (Nelson Rodrigues, cap. 11; A Menina sem Estrela)

"O grande medo. Não era a primeira vez que o sentia na carne e na alma. Meses
atrás, vivera um desses momentos de pavor que ninguém esquece." (Nelson Rodrigues, cap. 28; A Menina sem Estrela)


Sem dó, nem piedade.

A contundência é uma das características que Nelson Rodrigues mostrava em seus textos.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário // Nelson Rodrigues, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 205)

"Se não existisse no homem o lado podre, se não existisse no fundo de cada qual a lama inconfessa e encantada, também não existiria a indústria cinematográfica." (Nelson Rodrigues, no texto Os abnegados; A Cabra Vadia)

"Napoleão, o Grande, só foi possível porque a Europa estava saturada de pequeninos napoleões." (Nelson Rodrigues, no texto O Brasil Nazi-Stalinista; A Cabra Vadia)

"O sujeito, para viver, ou sobreviver, enterra o próprio espírito, como as jóias de Raskolnikov. E, se for preciso, ele finge debilidade mental e põe-se a babar na gravata, copiosamente." (Nelson Rodrigues, no texto Os falsos cretinos; O Óbvio e Ululante)


As metáforas facilitam o fluxo.

Metáforas para as quero? Nelson Rodrigues sabia para quê as queria. Elas dão um fluxo fácil e agradável para a leitura de seus textos.

"Minhas noites são uma pesada selva de insônias. Às três da manhã estou acordado, às quatro estou acordado. Se consigo dormir às cinco, tenho vontade de abrir os braços para o alto e gemer: - 'Eu não mereço tanto!' " (Nelson Rodrigues, no texto As insônias exemplares; O Reacionário)

"O cinismo escorre por toda parte, como a água das paredes infiltradas." (Nelson Rodrigues, no texto Os cínicos; O Reacionário)

"Infelizmente, não tenho nem a saúde física, nem a saúde mental de uma vaca premiada." (Nelson Rodrigues, no texto Flor de Obsessão, A Cabra Vadia)

"Aquele que não acredita na ressurreição de Lázaro não deve tentar a medicina." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 85)

"A leitora de orelhas começou assim: 'O Brasil é um país de quinta ordem!' " (Nelson Rodrigues, no texto Uma bica entupida há mil anos; O Reacionário)


O impacto dos paradoxos.

A forma, sempre a forma. Pois é, algo admirável nas obras de Nelson Rodrigues é a forma como ele apresentava suas opiniões. Com isto não quero dizer que as essências delas não têm valor. Quero dizer, e repito, que é admirável a forma como expunha suas opiniões. Entendo que o choque de considerável impacto era o objetivo dele. O uso de paradoxos facilita alcançar este objetivo e, consequentemente, provocar reflexões.

"Eu sou reacionário porque sou pela liberdade." (Nelson Rodrigues, em nelsonrodrigues.com.br)

"...a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal." (Nelson Rodrigues, no livro Entrevistas, Clarice Lispector, 2007, pág. 28)

"Em nosso século, o 'grande homem' pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 265)


Sem eufemismos: canalha, ser ou não ser...

Nelson Rodrigues empregou em diversos de seus textos a palavra canalha. Ele a empregava no sentido mais estrito da torpeza que ela representa, como um ponto de exclamação, com o mesmo objetivo de um ponto de exclamação, ou seja, para dar ênfase, para dar intensidade à essência do texto. Nelson Rodrigues não era afeito a eufemismos, mas à contundência das palavras. Aliás, isto está claro nos textos dele.

"Hoje é muito difícil não ser canalha. [...] Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." (Nelson Rodrigues, no texto O ex-covarde; A Cabra Vadia)

"Se eu apoiasse qualquer ato de violência, da direita ou da esquerda, seria um canalha." (Nelson Rodrigues, no texto O Brasil Nazi-Stalinista; A Cabra Vadia)

O texto a seguir tem o mesmo sentido que um texto atribuído a Vicenzo Globerti no qual consta a afirmativa de que os maiores inimigos da liberdade não são aqueles que a oprimem, mas sim aqueles que a sujam.

"Dirá alguém que, com o tempo e o uso, todas as palavras se degradam. Por exemplo: — liberdade. Outrora nobilíssima, passou por todas as abjeções. Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade." (Nelson Rodrigues, no texto A euforia de um anjo, O Óbvio Ululante)


Ironia e sarcasmo.

Algumas vezes ao expor suas opiniões, Nelson Rodrigues trocava as formas claramente contundentes pelo uso do sarcasmo e da ironia. Ele fazia com que estas duas últimas formas de expressão mostrassem, com não menos poder de incisão, as suas opiniões.

"Sou uma flor de obsessão." (Nelson Rodrigues, em entrevista a Otto Lara Resende)

"Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 253)

"...a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal." (Nelson Rodrigues, no livro Entrevistas, Clarice Lispector, 2007, pág. 28)

"Acabava de conversar com uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse [...] A leitora de orelhas... (Nelson Rodrigues, no texto Uma bica entupida há mil anos; O Reacionário)


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação
Leia Mais ►

ESCREVA-NOS UMA MENSAGEM POR E-MAIL !
Mensagem para Blog Info

  ©Template Blogger Elegance by Dicas Blogger.

TOPO